Um belo mistério: A História da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Arcebispo Marcel Lefebvre e os seminaristas em sua peregrinação a Roma em 1975

A história da FSSPX, como a da Igreja Católica, é um belo mistério. Ambas continuam florescendo, apesar de muitos contratempos e incertezas. Desde seu começo humilde, a FSSPX cresceu exponencialmente e proclama hoje a fé em todo o mundo.

Fundação

Dom Marcel Lefebvre, em resposta aos pedidos insistentes de jovens interessados em uma formação sacerdotal tradicional, fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X em 1º de novembro de 1970. Naquela época, ele tinha 65 anos de idade e havia servido à Igreja Católica como Delegado Apostólico para a África francesa, como Arcebispo de Dakar e como Superior Geral dos Padres do Espírito Santo, uma congregação de sacerdotes missionários. Onze jovens começaram seus estudos sob a direção de Dom Lefebvre no novo seminário de Ecône, Suíça. O bispo local de Friburgo estava convencido de que aquele novo seminário traria grandes benefícios para a Igreja Católica e deu rapidamente sua aprovação oficial. 

Oposição 

No entanto, o objetivo dessa nova congregação sacerdotal foi mal compreendido, inclusive pelos membros da Cúria Romana. Muita gente pensou que o antigo arcebispo se havia rebelado contra o papa, porque só permitia a celebração da missa segundo o rito latino tradicional em seu seminário. Mas ao contrário, Dom Lefebvre insistia em dizer que respeitava e honrava o Santo Padre e que simplesmente continuava uma tradição católica ininterrupta, que amava o rito tridentino da missa e sabia por experiência quão benéfico era para a formação de sacerdotes santos. De fato, o rito tridentino nunca havia sido suprimido, ainda que já estivesse permitido o novo rito vernáculo. 

Dom Marcel Lefebvre se opunha também a outras tendências modernas como o ecumenismo (doutrina que considera todas as religiões como benéficas e válidas) e a colegialidade (que afirma que a Igreja é governada principalmente pelo processo democrático e pelas conferências episcopais, limitando tanto o poder do papa como único chefe da Igreja universal como o poder individual e autônomo dos bispos em suas próprias dioceses). A postura firme de Dom Lefebvre sobre essas questões não agradou a certas autoridades romanas que queriam o progresso do novo rito da missa em língua vernácula em uma Igreja cada vez mais liberal e moderna. 

Como consequência, dois visitadores apostólicos foram enviados para realizar uma visita canônica (espécie de inspeção oficial) ao seminário de Ecône em 1974. Eles ficaram impressionados pelos altos padrões acadêmicos e pela piedade visível dos seminaristas; sua única reclamação provinha do fato de que a missa não era celebrada segundo o novo rito. Eles voltaram a Roma com relatório positivo para o papa. 

Supressão 

Apesar desse relatório favorável, Dom Marcel Lefebvre foi rapidamente chamado a Roma para ser entrevistado por três cardeais. Algumas semanas mais tarde, o novo bispo de Friburgo suprimiu repentinamente a FSSPX, em 6 de maio de 1975. Atônito, Dom Lefebvre fez uma apelação oficial perguntando quais eram as razões que motivavam aquele ato drástico. Não recebeu nenhuma resposta nem de Friburgo nem de Roma. Ainda pior, em 1976, Dom Lefebvre foi suspenso ab ordinum collatione, ou seja, foi proibido de ordenar diáconos e sacerdotes, e mais tarde foi suspenso a divinis, ou seja, foi proibido de realizar qualquer função sagrada, incluindo a celebração da missa. 

Confuso por aquela supressão brusca e aquele silêncio inexplicável, Dom Lefebvre julgou que devia continuar exercendo suas funções como diretor do seminário de Ecône. Para essa decisão, apoiava-se 

no Direito Canônico, que estipulava que tal suspensão não podia entrar em vigor até que a apelação oficial permanecesse sem resolução, o que tinha ainda mais força porque não lhe havia sido dada nenhuma resposta. Naquele verão de 1976, realizou como costume a cerimônia de ordenações sacerdotais. Também levou seus seminaristas em peregrinação a Roma como um gesto de boa vontade. 

Sagração dos bispos 

A FSSPX, apesar de sua aparente supressão, cresceu rapidamente. Novos seminários foram abertos na Alemanha, nos Estados Unidos, na Argentina e na Austrália. Irmãs e irmãos religiosos e membros leigos da Ordem Terceira juntaram-se às suas fileiras cada vez mais numerosas. Em 1987, a FSSPX tinha estendido seu apostolado a todos os continentes do mundo. 

Dom Lefebvre, depois de repetidas e infrutuosas negociações com Roma, decidiu em 1988 sagrar quatro novos bispos para servir à FSSPX e a seus fiéis. Em resposta, o papa emitiu um documento oficial excomungando Dom Lefebvre e os quatro novos bispos. Essa ação afetou profundamente Dom Lefebvre, mas ele acreditava firmemente que não podia em consciência atuar de outra forma e que estava obrigado a tomar as medidas necessárias para preservar a FSSPX e seu apostolado em todo o mundo. Dom Lefebvre faleceu três anos depois, em 25 de março de 1991. 

 

Peregrinação internacional da Fraternidade a Lourdes em 2014

Atualmente 

A FSSPX continuou seu apostolado apesar da morte de seu fundador. Em 1994, o bispo Dom Bernard Fellay foi eleito Superior Geral, cargo que ainda ocupa atualmente. Deve-se destacar que no Jubileu do ano 2000 Dom Fellay levou todos os sacerdotes, religiosos e seminaristas em peregrinação a Roma, buscando expressar o amor e o respeito da FSSPX ao Santo Padre. O Papa Bento XVI, mais tarde, decidiu liberar a missa tradicional em latim em um motu proprio de 2007 chamado Summorum Pontificum e, em 2009, levantou as “excomunhões” lançadas contra os quatro bispos da FSSPX. 

Atualmente, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X tem mais de 600 sacerdotes e quase meio milhão de fiéis espalhados por todo o mundo e corajosamente continua seu trabalho apostólico.